Vaz e Travassos

(Verride, Montemor-o-Velho)

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 § 1.º


I – JOANA VAZ. Nascida cerca de 1490, provavelmente em Tentúgal, concelho de Montemor-o-Velho. Ali viveu na companhia de seu marido JOÃO DE GUIMARÃES. Tiveram, pelo menos, o seguinte filho:

II - FRANCISCO VAZ. Nascido em Tentúgal cerca de 1515. Viveu no couto de Verride, concelho de Montemor-o-Velho, casado com CATARINA TRAVASSOS, natural da vila de Montemor-o-Velho, tida e reputada como cristã-velha, filha de Vasco Travassos, certamente de parentesco próximo com Francisco Travassos, escudeiro, de Montemor-o-Velho, que em 1515 foi nomeado tabelião do público e judicial da dita vila[1]. Tiveram:

1 (III) FRANCISCO TRAVASSOS. Nascido em Torres Novas cerca de 1540. Casou na freguesia de Verride a 15.07.1565 com ISABEL BERNARDES “a Velha”, cristã-nova, natural de Torres Novas, que foi relaxada pelo Santo Ofício. Foi fintado por gente de nação no serviço que fizeram à fazenda de Sua Majestade, por diversas vezes[2]. Tiveram:

1 (IV) ISABEL BERNARDES “a Nova”, que segue no § 2.
2 (IV) TEOTÓNIO TRAVASSOS. Foi baptizado em Verride a 24.2.1571, levando por padrinho António da Fonseca e por madrinha Isabel Travassos. Acusado de judaísmo foi preso pela Inquisição de Coimbra a 23.11.1621, sendo relaxado à justiça secular[3]. Embora tenha falecido solteiro teve, de uma mulher de apelido “Coutinho[4], o seguinte filho bastardo:

1 (V) JOSÉ DO COUTO. Em 1635, com cerca de 14 anos de idade, encontrava-se ausente, não se sabe em que parte.

3 (IV) MARIA TRAVASSOS. Foi baptizada em Verride em 9.4.1567. Foi presa pela Inquisição de Coimbra, por culpas de judaísmo, a 23.11.1621. Faleceu, relaxada pela mesma inquisição, sem filhos.
4 (IV) ANTÓNIO TRAVASSOS. Foi baptizado em Verride em Agosto de 1568. Faleceu sendo estudante de Cânones na Universidade de Coimbra[5], onde esteve matriculado desde 1588 a 1596. Sem geração.
5 (IV) FRANCISCO. Foi baptizado em Verride a 9.2.1575.
6 (IV) CATARINA. Foi baptizada em Verride a 27.11.1576.

2 (III) DOMINGOS TRAVASSOS, que segue.
3 (III) MARIA TRAVASSOS. Natural de Verride. Casou na mesma freguesia a 12.7.1563 com ANTÓNIO DA FONSECA, escrivão dos Órfãos e Judicial, natural de Pombal, filho de João da Fonseca e de Maria Godinho. Tiveram:

1 (IV) FRANCISCO DA FONSECA. Nascido em Verride cerca de 1566. Serviu o ofício de escrivão do Executório do Reino e do Almoxarifado das Sisas. Viveu em Tomar. Foi preso pela Inquisição de Lisboa a 11.2.1622, por culpas de judaísmo[6]. Apresentava-se na referida circunstância já viúvo de VIOLANTE GOMES. Foi condenado a apresentar-se no auto-de-fé de 5.5.1624 onde abjurou em forma, sendo condenado a confisco de bens, abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial perpétuos. Tiveram:

1 (V) ANTÓNIO DA FONSECA TRAVASSOS. Nascido em Tomar cerca de 1593. Serviu o ofício de escrivão do Almoxarifado da mesma vila. Foi preso a 1.ª vez, aos 28 anos de idade, pela Inquisição de Lisboa em 30.11.1622, por culpas de judaísmo, sendo já viúvo de LEONOR PEREIRA, cristã-velha, e casado com MARIANA DE CASTRO, também cristã-velha. Foi, nessa vez, sentenciado no auto-de-fé de 5.5.1624 a confisco de bens, abjuração em forma, instrução na fé católica, penas e penitências espirituais. Em 1637, com 44 anos de idade, voltou a ser preso pela mesma Inquisição, acusado de impedir o recto ministério do Santo Ofício. Na mesma ocasião servia a Gonçalo Vaz Coutinho, fidalgo. Foi chamado ao auto-de-fé de 5.9.1638, onde ouviu a sentença que o condenou a hábito penitencial perpétuo, penas e penitências espirituais, pagamento de custas e degredo para Castro Marim por um período de 5 anos, sendo mais tarde, por despacho de 27.4.1640, perdoado da pena de degredo a que tinha sido condenado[7].

2 (IV) CATARINA DA FONSECA. Natural de Verride. Tinha ¼ de cristã-nova. Foi presa pela Inquisição de Coimbra em 23.11.1621, acusada do crime de judaísmo, heresia e apostasia[8]. Em 19.6.1623 foi-lhe passado termo de soltura e segredo e em 26.6.1623 após confessar mais culpas foi mandada para a sua terra. Foi casada com JORGE COELHO, cristão-velho, escrivão do Judicial em Urmar. Tiveram os seguintes filhos:

1 (V) JOANA COELHO. Nascida em Verride cerca de 1604. Foi presa a 2.ª vez pela Inquisição de Coimbra a 1.4.1669 por culpas de relapsia em judaísmo[9]. Viveu em Verride casada com DOMINGOS FERREIRA DE QUEIRÓS, tabelião de notas.
2 (V) ANTÓNIO COELHO. Lavrador. Nascido em Verride cerca de 1605. Com apenas 18 anos de idade foi preso, a 10.6.1623, pela Inquisição de Coimbra sob a acusação de práticas judaicas[10]. Apresentou-se no auto-de-fé de 4.5.1625 onde abjurou em forma, sendo ainda sentenciado a confisco de bens, penas e penitências espirituais, cárcere e hábito penitencial perpétuos. Por despacho de 7.5.1625 o réu foi solto e foi-lhe assinada por cárcere a cidade de Coimbra e seus arrabaldes, de onde não poderia ausentar-se sem licença da Mesa.
3 (V) Ten. DOMINGOS COELHO DA FONSECA. Natural de Verride. Viveu em Elvas, onde serviu no posto de tenente de cavalos. Foi casado com TEODÓSIA FERREIRA. Foi preso pela Inquisição de Évora a 23.5.1670 por culpas de judaísmo[11]. Saiu em liberdade a 22.9.1670.
4 (V) JOÃO COELHO. Natural de Verride. Foi preso pela Inquisição de Coimbra a 20.6.1623, com apenas 13 anos de idade, acusado de práticas na Lei dos Judeus[12]. Em 19.12.1624 foi absolvido por ter menos de 14 anos, mas instruído na fé.
5 (V) MARIA COELHO. Natural de Verride. Foi presa pela Inquisição de Coimbra a 6.6.1623, por culpas de judaísmo, heresia e apostasia[13]. Tinha, na mesma circunstância, apenas 19 anos de idade e ainda solteira. Casou em Verride a 3.1.1633 com MIGUEL FERNANDES, natural da freguesia de S. Martinho, de Montemor-o-Velho, filho de Manuel Fernandes e de Isabel Simões.
6 (V) JULIANA. Foi baptizada em Verride a 18.4.1621, na presença de Martim Ferreira Homem, enquanto padrinho.
7 (V) ISABEL. Fez crisma. Foi sua madrinha Inês Coelho.

3 (IV) ISABEL DA FONSECA. Foi baptizada em Verride a 8.3.1582. Foram seus padrinhos Domingos Travassos e Leonor Lopes. Foi casada com PEDRO REBELO DE MOURA, escrivão da Câmara, do qual houve:

1 (V) MARIA REBELO. Natural de Verride. Tinha 1/8 de cristã-nova. Foi presa pela Inquisição de Coimbra a 14.7.1670 por culpas de judaísmo[14]. Foi casada com JOÃO LOPES, rendeiro. A 20.11.1670 foi passado à ré termo de soltura e segredo.
2 (V) MANUEL REBELO. Natural de Verride. Foi preso pela Inquisição de Coimbra a 6.6.1623 por culpas de judaísmo, heresia e apostasia[15]. Em 27.11.1623 foi-lhe passado termo de soltura e segredo. A 4.12.1623, depois de reconciliado, confessou mais culpas.

4 (IV) JOÃO DA FONSECA DE CARVALHO. Foi baptizado em Verride em Fevereiro de 1569. Casou com CATARINA FIGUEIRA DE REBOREDO, da qual houve:

1 (V) FILIPA DA FONSECA, sem mais notícia. Presume-se que tenha sido presa, tal como sua irmã.
2 (V) JULIANA DA FONSECA DE MESQUITA. Nascida em Verride cerca de 1602. Foi presa pela Inquisição de Coimbra a 6.6.1623, por culpas de judaísmo[16]. Apresentava-se na referida data com 21 anos de idade. Casou com MANUEL DE MENDANHA PINTO, cristão-velho.

5 (IV) Frei ANTÓNIO. Foi baptizado em Verride em Agosto de 1568. Foi religioso de S. Francisco na Província do Alentejo.
6 (IV) JUSTINO. Foi baptizado em Verride a 23.5.1573. Foram seus padrinhos Bartolomeu Travassos e Isabel Travassos, mulher de Francisco Travassos.
7 (IV) ANA ou MARIA. Foi baptizada em Verride a 5.5.1586. Foi sua madrinha Catarina Travassos, filha de Bartolomeu Travassos.

4 (III) ISABEL TRAVASSOS. Natural de Verride. Casou na mesma freguesia a 29.5.1582 com TOMÉ DE COUROS, de Montemor-o-Velho, filho de António de Couros e de Brites Rodrigues.
5 (III) BARTOLOMEU TRAVASSOS. Natural de Verride. Faleceu, com testamento, em Montemor-o-Velho a 3.5.1605. Foi casado com BRITES DE COUROS, filha de António de Couros e de Brites Rodrigues, acima referidos. Tiveram:

1 (IV) ANA TRAVASSOS. Faleceu solteira antes de 1620.
2 (IV) Frei FRANCISCO TRAVASSOS. Faleceu antes de 1620.
3 (IV) MARIA TRAVASSOS. Faleceu solteira antes de 1620.
4 (IV) ANTÓNIO DE COUROS. O mesmo que “odiava seu primo Teotónio Travassos”. Teve de uma MARIA FRANCISCA, sem com ela ter casado, a seguinte filha:

1 (V) BEATRIZ DE COUROS. Natural de Montemor-o-Velho. Casou com ANTÓNIO JOÃO, médico.

5 (IV) CATARINA TRAVASSOS. Nascida em Montemor-o-Velho cerca de 1560. Foi presa pela Inquisição de Coimbra por culpas de judaísmo[17]. Casou com MIGUEL DA FONSECA CARDOSO, natural de Viseu, ½ de cristão-novo, escrivão da Fazenda da Universidade de Coimbra, filho de Simão Gomes e de Maria Cardoso. Miguel foi preso pela Inquisição de Coimbra por culpas de judaísmo e sujeito a tormento[18].

6 (III) ANTÓNIO TRAVASSOS. Foi cavaleiro da Ordem de Cristo. Casou com CATARINA ANTUNES, natural de Évora. Tiveram:

1 (IV) Frei JOÃO TRAVASSOS DA COSTA. Natural da freguesia de S. Tiago da cidade de Évora. Foi clérigo em Lisboa e vigário geral do Arcebispo. Formou-se em Cânones na Universidade de Coimbra entre 1592 e 1598.
2 (IV) MANUEL TRAVASSOS. Casou com BRITES FIGUERA, de Torres Novas. Tiveram:

1 (V) FILIPA TRAVASSOS. Casou a 6.2.1576 na freguesia de S. Martinho, em Montemor-o-Velho, com GOMES DE GOUVEIA, meirinho do Ouvidor, natural de Torres Novas, filho de Afonso Mendes, fidalgo da Casa Real, e de Maria Neto. Tiveram:

1 (VI) BEATRIZ FIGUEIRA. Nascida em Torres Novas cerca de 1586. Foi presa por culpas de judaísmo pela Inquisição de Lisboa a 30.7.1636, com 50 anos de idade e sendo solteira. Foi condenada no auto-de-fé de 11.3.1640 a abjurar de veemente, cárcere a arbítrio, penitências espirituais e pagamento de custas[19].
2 (VI) Pe. DIOGO FIGUEIRA. Nascido em Torres Novas cerca de 1589. Foi sacerdote beneficiado na Igreja do Salvador, em Torres Novas. A 30.7.1636, com 47 anos de idade, foi preso pela Inquisição de Lisboa por culpas de judaísmo[20]. Apresentou-se no auto-de-fé de 11.3.1640 onde abjurou de veemente, sendo suspenso do exercício das suas ordens pelo tempo de 8 anos e condenado a cárcere a arbítrio e penitências espirituais.
3 (VI) CATARINA TRAVASSOS. Nascida em Torres Novas cerca de 1601. Tinha 35 anos de idade a 30.7.1636, quando foi presa pela Inquisição de Lisboa por culpas de judaísmo[21]. Foi sentenciada a abjurar de veemente, cárcere a arbítrio, penitências espirituais e pagamento de custas.

2 (V) CATARINA FIGUEIRA. Falecida antes de 1620, sem mais notícia.

7 (III) JERÓNIMO TRAVASSOS. Falecido antes de 1620, sem outra notícia.
8 (III) Frei TOMÉ TRAVASSOS. Foi freire professo na Ordem do Carmo.
9 (III) MANUEL TRAVASSOS, sem mais notícia.
10 (III) Soror ANA TRAVASSOS. Foi freira no Mosteiro de Campos.
11 (III) VASCO TRAVASSOS. Foi vigário em Montemor-o-Velho[22].

III – DOMINGOS TRAVASSOS. Lavrador. Nascido cerca de 1540. Casou, pela 1.ª vez, antes de 1563 com FILIPA DE FARIA, cristã-velha. Casou, pela 2.ª vez, cerca de 1563, com ANTÓNIA TEIXEIRA. Casou, pela 3.ª vez, em Verride a 1.2.1579, com LEONOR LOPES, irmã do Pe. Simão de Morais. Teve do 1.º casamento o seguinte filho:

1 (IV) BARTOLOMEU DE FARIA “o Velho”. Sapateiro. Nascido cerca de 1564 na freguesia de Samuel, concelho de Soure. Foi preso pela Inquisição de Coimbra a 9.11.1623 por culpas de judaísmo[23]. Foi sentenciado no auto-de-fé de 4.5.1625 a confisco de bens, abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo e instrução na fé. Por despacho de 6.5.1625, o réu foi solto do cárcere e foi-lhe dada por prisão a cidade de Coimbra e seus arrabaldes, donde não poderia ausentar-se sem licença da Mesa. Casou pela 1.ª vez com JOANA JOÃO, e pela 2.ª vez com MADALENA FERNANDES, ambas cristãs-velhas. Houve, do 2.º casamento, pelo menos o seguinte filho:

1 (V) LUÍS DE FARIA “o Velho”. Casou em Verride em 1636 com MARIA CARVALHO, da qual houve:

1 (VI) MARIA DE FARIA. Foi casada com ANTÓNIO RODRIGUES CURADO, com geração.

Do casamento de Domingos Travassos com Antónia Teixeira, sua 2.ª mulher, houve o seguinte filho:

2 (IV) TOMÉ VAZ TRAVASSOS ou TEIXEIRA, que segue.

IV - TOMÉ VAZ TRAVASSOS ou TEIXEIRA. Nascido na freguesia de Samuel, concelho de Soure, cerca de 1569. Viveu em Verride, do seu trabalho e indústria, enquanto seareiro. Foi preso pelo Inquisição de Coimbra em 1623, com 54 anos, acusado de judaísmo, heresia e apostasia[24], após ter sido denunciado, entre outros, pelo Pe. João Travassos, seu parente[25].  Viveu em Verride casado com DOMINGAS JOÃO, cristã-velha, com os seguintes filhos:

1 (V) JOÃO VAZ TEIXEIRA, que segue.
2 (V) MARIA TEIXEIRA. Nascida em Verride cerca de 1606. Nunca casou nem teve filhos. Foi presa pela 1.ª vez a 7.4.1625 e pela 2.ª vez a 2.6.1671. Faleceu relaxada à justiça secular pela Inquisição de Coimbra, após ter sido presa por duas vezes e incorrido no crime de reincidência em judaísmo e heresia[26].
3 (V) ISABEL TEIXEIRA. Nascida em Verride antes de 1609. Foi, tal como sua irmã, presa pela Inquisição de Coimbra por duas vezes, sendo a 1.ª vez a 7.4.1625 e a 2.ª vez a 7.6.1671, falecendo solteira e sem filhos após ter sido sentenciada e relaxada à justiça secular[27].
4 (V) DOMINGOS TEIXEIRA. Ausentou-se para Castela, sem outra notícia.

V – JOÃO VAZ TEIXEIRA. Nascido em Verride cerca de 1600. Sabe-se da sua prisão pela Inquisição de Coimbra a 28.1.1670, por culpas de judaísmo, pela informação que nos chega através dos processos de suas irmãs, todavia, desconhece-se o paradeiro do seu processo. Serviu de testemunha no processo da Inquisição de sua irmã Isabel, em 1670, documentando-se no seguinte excerto:

«... ter 70 anos, começando a confessar as suas culpas a 31 de Janeiro do dito ano. Por não satisfazer foi acusado e se lhe fez publicação da prova de justiça; e finalmente levado a casa do tormento onde disse desta ré (sua irmã Isabel Teixeira) o seguinte: Aos 28 dias do mês de Novembro de 1670 annos em Coimbra na caza e lugar do tormento, sendo pellas dez horas e meia da manhaam estando ahí o Sor Inq.or M.el Pimentel de Souza, q assiste pello ordinário, e os Senhores deputados João de Azevedo e Frei D.os Freire mandarão vir perante si a João Vaz Teixeira Reo prezo conteudo nestes autos. E sendo presente lhe foi dado juramento dos S.tos Evang.os em q pôs a mão, sob cargo do qual lhe foi mandado dizer verdade e ter segredo; O q elle prometteo comprir e logo disse q queria confessar o q mais lhe lembrava, e era: Que haveria  quarenta annos pouco mais ou menos no lugar de Verride em caza de Hércules Barboza, defunto, do qual tem d.o, se achou com duas irmaas inteiras delle confitente chamadas M.ª Teixeira, e Isabel Teixeira, q nunqua casarão, e são de maior i.de; e foi antes das mesmas serem prezas por esta Inq.ção f.as de Thomé Vaz, q tinha p.te de X Novo, e de Domingas João, X.am Velha, defuntos, naturaes e moradores do d.o Lugar de Verride; e estando todos três entre práticas de q não he lembrado, se declararão, e derão conta, elle confitente, e as d.as M:ª Teixeira e Isabel Teixeira como crião e vivião na Lei de Moysés p.a salvação de suas almas, sem falarem em ceremonias nem ali nem depois passarem mais nesta materia. E se fiarão pelo parentesco declarado, e do costume disse nada. E sendo-lhe lida esta sessão e por ele ouvida e entendida, disse estar assenta na ver.de...».

Foi denunciado, entre outros, por João Barbosa, preso pela Inquisição de Coimbra, que relatara à Mesa da Inquisição o seguinte episódio:

«…Disse mais, que haverá sete anos, no lugar da Abrunheira, em casa de João Vaz Teixeira, (...), cristão-novo por via paterna, que vive de sua fazenda, casado com uma cristã-velha do mesmo lugar, cujo nome não sabe, e ali morador mas natural da de Verride, se achou com ele e estando ambos sós entre práticas de que não é lembrado se declararam e deram (...) ele confidente e o dito João Vaz Teixeira como criam e viviam na Lei de Moisés para salvação de suas almas, sem falarem em cerimónias, nem ali nem depois falaram mais nesta matéria.»[28]

João Vaz Teixeira viveu de sua fazenda na localidade de Abrunheira, freguesia de Reveles, casado com MARIA FRANCISCA MANUEL[29], cristã-velha, da qual houve:

1 (VI) ANTÓNIO FRANCISCO, que segue.
2 (VI) ANTÓNIA. Falecida em Reveles a 21.2.1675.

VI – ANTÓNIO FRANCISCO. Nascido cerca de 1650. Casou na freguesia de Reveles a 18.2.1685 com LEONOR MARTINS, natural da referida localidade de Reveles, filha de Manuel Martins e de Isabel Marques. Foram moradores no sítio do Vale Grande, em Reveles, e tiveram:

1 (VII) JOSÉ. Foi baptizado na freguesia de Reveles a 33.5.1685, assistindo como padrinhos o Cap. António Pinto da Silva e Rodrigo de Miranda.
2 (VII) ROQUE MARTINS. Foi baptizado na freguesia de Reveles a 11.5.1692, assistindo como padrinhos Roque de Macedo Pereira e D. Catarina, moradores em Verride. Casou na freguesia de Reveles a 14.4.1709 com BRÍGIDA LOPES, do mesmo lugar, filha de João Lopes Cardoso e de sua mulher Esperança Rodrigues. Com geração.



§ 2

IV – ISABEL BERNARDES “a Nova”. Filha de Francisco Travassosn.º 1 III do § 1, e de Isabel Bernardes “a Velha”. Foi baptizada em Verride a 23.10.1572, levando por padrinho Vasco Travassos. Foi denunciada em 17.06.1621 por práticas judaicas. A Inquisição de Coimbra instaurou-lhe um processo[30], contudo nunca chegara a ser presa uma vez que falecera, em 1623, com cerca de 50 anos de idade, antes de se proceder contra ela. Foi a 1.ª mulher de MARTIM FERREIRA HOMEM DE MARIZ[31], cristão-velho, que foi morador no couto de Verride, meirinho da Correição da vila de Montemor-o-Velho e Terras do Infantado do Ducado de Aveiro, ofício que herdara de seu pai, Pedro Ferreira, que foi morador em Torres Novas casado com Isabel Frazão de Magalhães, filha de Heitor Homem de Magalhães e de sua mulher Branca de Freitas. Tiveram:

1 (V) ANTÓNIA DE MAGALHÃES. Nascida em Verride cerca de 1608. Foi presa a 1.ª vez pela Inquisição de Coimbra em 1623, com apenas 15 anos de idade. Foi acusada do crime de judaísmo, heresia e apostasia[32]. Em 7.6.1671, com 60 anos, foi novamente presa pela mesma Inquisição por incorrer no crime de reincidência de judaísmo, heresia e apostasia. Na mesma circunstância acabara sentenciada a degredo de 5 anos para o Brasil, instrução na fé, penas e penitências espirituais.
2 (V) JOÃO HOMEM DE MAGALHÃES. Nascido e baptizado na freguesia de Verride em 1615, na presença de seu padrinho, João da Cunha, de Maiorca. Foi preso pela Inquisição de Coimbra a 15.12.1635 por culpas de judaísmo[33]. Apresentava-se na referida circunstância como mancebo solteiro. A sua prisão motivou a defesa de sua honra por parte de seu pai, através de uma carta que dirigiu ao Tribunal do Santo Ofício, alegando que as acusações a que seu filho fora sujeito foram motivadas por inimizades do mesmo com uma Maria Vieira seu marido Simão Pinto e respectivos filhos, por ter o dito seu filho, certa vez, dado uma bofetada a um filho do dito casal.
3 (V) CATARINA DE SENA. Natural de Verride. Em 1635 apresentava-se com cerca de 18 anos de idade e residia em casa de seu irmão João Homem. Foi presa pela Inquisição de Coimbra a 2.6.1671, por culpas de judaísmo, com 50 anos de idade. Apresentou-se no auto-de-fé de 18.11.1674, sendo sentenciada a abjurar de veemente, cárcere a arbítrio dos inquisidores, instrução na fé, penitências espirituais e pagamento de custas[34].
4 (V) HEITOR HOMEM DE MAGALHÃES. Em 1635 apresentava-se com cerca de 28 anos e morava em casa de seu irmão João Homem, em Verride. Saiu reconciliado pelo Santo Ofício.
5 (V) ISABEL FRAIÃO. Natural de Verride. Foi presa pela Inquisição de Coimbra a 6.6.1623, acusada dos crimes de judaísmo, heresia e apostasia[35].
6 (V) PEDRO FERREIRA. Faleceu em 22.7.1622, ainda solteiro. Ainda assim, foi sentenciado pela Inquisição de Coimbra, em situação de post-mortem, por culpas de judaísmo, a relaxo à justiça secular com seus ossos desenterrados e queimados[36].


Excerto do processo do TSO de João Homem de Magalhães (fl. 31)


 Excerto do processo do TSO de João Homem de Magalhães (fl. 31v)

Excerto do processo do TSO de João Homem de Magalhães (fl. 32)

Excerto do processo do TSO de João Homem de Magalhães (fl. 32v)

Excerto do processo do TSO de João Homem de Magalhães (fl. 33)





[1] Cf. AN/TT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 10, fl. 133 v.
[2] Cf. Proc. 98339 – João Ferreira Homem.
[3] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 5999.
[4] Informação colhida no processo de João Barbosa. Seria Domingas Coutinho, que teve um filho chamado José, crismado em Verride a 26.4.1630?
[5] Arquivo da Universidade de Coimbra, Matrículas, Código de referência: PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/T/002297
[6] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 930.
[7] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 5133 e 5133-1.
[8] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 7715.
[9] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 2640.
[10] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 1981.
[11] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Évora, Proc. 3466.
[12] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 307. Possivelmente o mesmo João Coelho que foi casado com Maria Barbosa, que teve processo em 1671, filha de Hércules Barbosa, pais de outro João Coelho.
[13] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 4640.
[14] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 4475.
[15] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 5075.
[16] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 1922 e 1922-1. O seu processo inclui uma lista de pessoas a serem presas no lugar de Verride.
[17] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 354 e 354-A.
[18] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 355 e 355-A.
[19] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 7655.
[20] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 7649.
[21] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 7654.
[22] Cf. Proc. 9781 – Inquisição de Lisboa (Pe. João Travassos)
[23] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 1517.
[24] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 5998. O seu processo está interdito para consulta devido ao mau estado em que se encontra.
[25] Cf. Proc. 9781 – Inquisição de Lisboa, imagem digital n.º 183.
[26] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 2791 e 2791-A.
[27] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 8977
[28] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, Proc. 6874, fl. 30, Imagem digital n.º 59.
[29] É referida no registo de casamento do filho como "Maria Francisca". É referida como "Maria Manuel" num registo de baptismo de 31.7.1664, no qual a sua filha Maria foi madrinha de baptismo (imagem digital n.º 50) No processo de Isabel Teixeira é referida com os dois apelidos.
[30] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 3582.
[31] Depois de enviuvar casou com D. Ângela Pereira, da qual teve, pelo menos, 4 filhos: Genebra, de 7 anos em 1635; António, de 6 anos; Paula de Mariz Pereira, de 2 anos; Jerónima, que se documenta mais tarde.
[32] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 1819 e 1819-1.
[33] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 9838.
[34] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 2163.
[35] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 3983.
[36] AN/TT, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, Proc. 1351.